terça-feira, 10 de janeiro de 2012

AQUISIÇÃO DA SEGUNDA LINGUA

Universidade Federal de Santa Catarina
Licenciatura e Bacharelado em Letras-Libras na Modalidade a Distância
Mailce Borges Mota
Aquisição de segunda
língua
     
Florianópolis
2008 2
UNIDADE 1
O campo de conhecimento e uma breve história
 
FlickR/Liz Henry
Multilingual Mural
1. Introdução
No momento em que reviso este texto-base, encontro-me em estágio pós-doutoral no
Laboratório do Cérebro e da Linguagem, que está localizado no Departamento de
Neurociência do Georgetown Medical Center, Georgetown University, em Washington,
DC. Para ir de minha casa até lá, caminho cerca de  15 minutos para pegar o ônibus da
Universidade que nos leva até o campus médico de graça. É sempre um passeio agradável
principalmente pela grande variedade de imigrantes  que encontro pelo caminho. Ali, um
estadunidense que, ao me reconhecer latino-americana, me diz “Hola, buenos dias” e que se
surpreende quando lhe respondo ao educado cumprimento e lhe explico, em inglês, que
sim, sou latino-americana mas não sou hispânica, falo português brasileiro. Adiante, um 3
casal que conversa em um idioma que não reconheço e que, ao ser por mim indagado sobre
que língua os dois estão falando, dizem, alegres: “Gujarati!”. Um pouco mais à frente, duas
estudantes da Gallaudet University conversam em língua de sinais e concluo que uma delas
é ouvinte de inglês americano já que interrompe a conversa para perguntar a um policial
onde fica a estação de metrô mais próxima. No ônibus até o campus, uma mescla
impressionante de línguas e culturas - coreanos, italianos, suecos, panamenhos,
estadunidenses – todos se dirigindo as suas atividades de estudo e pesquisa, as quais serão
conduzidas em língua inglesa. O motorista do ônibus, ele mesmo, é marroquino.
De fato, o bilingüismo ou, como mais recentemente denominado, o multilinguismo, é cada
vez mais comum e a nossa tomada de consciência sobre o fato de que a habilidade de usar
duas ou mais línguas além de nossa língua materna parece ser a regra, e não a exceção, se
deve, entre outros fatores, à aceleração recente de um processo de globalização cultural e
econômica, que aproxima culturas e línguas com uma  rapidez e facilidade nunca vistas
antes. Segundo o pesquisador François Grosjean, o bilingüismo está presente em todos os
países, classes sociais e grupos etários, sendo um  fenômeno antigo na história da
comunicação verbal entre os seres humanos: é pouco  provável que os diferentes grupos
lingüísticos tenham se mantido isolados e o contato lingüístico, dessa maneira, contribuiu
para que alguma forma de bilingüismo, e mesmo de multilinguismo, tenha sempre existido
através dos tempos (Grosjean, 1982).
Em função de suas conseqüências sociais, políticas  e econômicas extremamente
importantes, sobretudo no mundo contemporâneo, o bilingüismo e o multilinguismo são
fenômenos cada vez mais estudados, atraindo um grande número de pesquisadores que,
afiliados a diferentes escolas teóricas, abordam esses fenômenos a partir de diferentes
perspectivas. Essa variedade de visões torna a “aquisição de segunda língua” um campo
fértil de pesquisa que cresce a passos largos.
Os nossos objetivos principais na disciplina Aquisição de Segunda Língua são (1) conhecer
as teorias, modelos e hipóteses que explicam e descrevem o processo de aquisição de uma
língua além da materna e (2) conhecer as principais variáveis que afetam esse processo. Ao 4
longo desta aprendizagem, refletiremos também sobre como os conceitos e propostas que
estamos conhecendo podem contribuir para a formação e a atividade profissional do
tradutor-intérprete de LIBRAS e sobre como este corpo teórico nos ajuda a entender quem
somos nós na condição de aprendizes e usuários de várias línguas. No restante desta
unidade trataremos da abrangência da área de conhecimento “aquisição de segunda língua”
como disciplina intelectual e apresentaremos uma breve história dessa área.
1.2 Abrangência da área de conhecimento “aquisição de segunda língua”
Em uma recente publicação, os experientes pesquisadores Catherine Doughty e Michael
Long (2003, p. 3-4) afirmam que o escopo do campo de conhecimento denominado
“aquisição de segunda língua” é amplo e abarca:  
• Conhecimento básico e aplicado sobre a aquisição e  perda de segunda, terceira,
quarta, etc., línguas e dialetos tanto por adultos  quanto por crianças que se
encontram em ambientes naturais ou instrucionais (ou seja, na escola), como
indivíduos ou como grupos em contextos de língua estrangeira, segunda língua, e
língua franca (veja a Unidade 2 para definição desses termos);
• uma variedade de métodos de coleta e análise de dados que incluem a observação
nos contextos de aquisição (naturais ou instrucionais), o uso de designs
experimentais com um alto nível de controle de variáveis de pesquisa, o
desempenho de tarefas em laboratório, a simulação computacional, o tratamento
qualitativo e/ou quantitativo dos dados;
• um grupo grande de pesquisadores afiliados a uma variedade de campos de
conhecimento, tais como a lingüística, a lingüística aplicada, a psicologia cognitiva,
a comunicação, a psicologia educacional, a educação e a antropologia.
Quase tudo o que sabemos sobre o processo de aquisição de segunda língua resulta de
estudos realizados por pesquisadores internacionais, embora nas duas últimas décadas
esse tipo de pesquisa tenha se tornado bastante frutífera no Brasil também. No cenário
internacional, uma das mais fortes correntes de pesquisa sobre a aquisição de segunda
língua é a corrente cognitiva que, em suas diversas orientações (nativista, funcional, 5
emergentista, conexionista) tem como objetivo fundamental caracterizar (i.e.,
identificar, descrever e explicar) a  natureza do conhecimento que permite a um
indivíduo utilizar a segunda língua. Ou seja, a corrente cognitiva procura compreender
de que forma o conhecimento da segunda língua está representado mentalmente - em
outras palavras, procura determinar o conhecimento  denominado como  competência
(Doughty & Long, 2003; Ellis, 2008). Por entender que a aquisição de segunda língua
trata, em última instância e fundamentalmente, de mudanças em nossa representação
mental, um grande número de pesquisadores tende a afiliar esse campo de
conhecimento à ciência cognitiva.
Entretanto, como muito bem apontado por Rod Ellis – um importante pesquisador da
área – nos últimos 15 anos a perspectiva sociocultural também ganhou força. Nessa
perspectiva, que se ampara no trabalho do psicólogo russo Vygotsky, a aquisição não é
um fenômeno apenas mental – é um processo contextualmente situado e mediado pela
interação social e cultural (Gass & Selinker, 2008)
Rod Ellis é professor de Aquisição de Segunda Língua na Universidade de
Auckland, Nova Zelândia. Ele é autor de importantes publicações na área de
aquisição de segunda língua, incluindo o livro “The Study of Second
Language Acquisition”. Este livro, primeiramente publicado em 1994, teve
sua segunda edição recentemente lançada (2008) e é  uma das principais fontes de
consulta sobre o estado da arte na área  de aquisição de segunda língua.
 
1.3 Razões para estudarmos a aquisição de segunda língua
Como vimos anteriormente, o bilingüismo e multilinguismo parecem ser a regra, mais que
a exceção, no mundo contemporâneo. O número crescente de bilíngües e multilingües está,
em grande parte, relacionado às mudanças políticas, econômicas e sociais que tomaram
lugar na segunda metade do século XX tais como o surgimento de novos Estados, o fim da
Guerra Fria, o desenvolvimento de tecnologias da informação e comunicação, a ampliação 6
da mobilidade de populações internacionais e a globalização econômica e cultural (Inglis,
1996). Juntos, estes fatores facilitaram o contato étnico e, com ele, o contato e diversidade
lingüístico-culturais.
 No mundo atual é cada vez mais comum que crianças sejam expostas a uma língua em
casa e a outra na escola. Em algumas situações, o uso de uma língua franca é
institucionalizado por governos por não ser possível, na visão desses governos, garantir
escolarização nas várias línguas faladas pela comunidade (por exemplo, em Papua Nova
Guiné), de modo que os membros de diferentes comunidades lingüísticas devem aprender a
língua oficial. Em outras situações, uma língua é suprimida ou estigmatizada como
resultado de conflitos políticos ou étnicos e outra, supostamente superior, é forçada e deve
ser utilizada (e, portanto, adquirida) pelos membros da comunidade invadida. Ainda, todos
os dias vemos refugiados sendo recebidos em outros  países em função de catástrofes
naturais ou, pior, em função da guerra, da fome e da falta de empregos. Esses indivíduos
são repentinamente desafiados a adquirir uma língua que lhes permita reconstruir a vida e
restabelecer relações sociais.
Entretanto, uma grande parte de bilíngües e multilingües tomam a decisão de adquirir uma
língua além da materna por vontade própria – para viajar e conhecer outros países, para
obter aprimoramento educacional, para trabalhar ou porque querem se  casar com alguém
que tem outra língua materna. No Brasil, mais recentemente (e, diga-se, tardiamente), a
iniciativa voluntária de adquirir uma segunda língua ganhou mais projeção com os
movimentos de democratização da Língua Brasileira de Sinais e a ênfase nos direitos
lingüísticos dos surdos, que fizeram com que indivíduos de vários segmentos da sociedade
se interessassem por aprender LIBRAS para fins profissionais ou para fortalecer sua relação
social-afetiva com os surdos. Um fenômeno – isto é, a aquisição de segunda língua - que
afeta nossa vida de maneira tão profunda, muitas vezes decidindo nosso futuro, merece ser
inspecionado cuidadosamente.
 
As situações ilustradas acima colocam em evidência as razões socialmente motivadas para
o estudo da aquisição de segunda língua. Entretanto, como nos lembram Doughty e Long 7
(2003), estas não são as únicas razões. A compreensão do processo de aquisição de segunda
língua pode nos ajudar a entender também o funcionamento da cognição humana e pode
contribuir para o aprimoramento de teorias de aquisição de língua materna e de outros tipos
de conhecimento, não lingüístico. Pode esclarecer questões ainda abertas tanto no campo da
psicologia cognitiva quanto no campo da lingüística, tais como o papel do conhecimento
explícito e implícito, a memória, a atenção, o papel do ambiente lingüístico na aquisição, a
variação individual. Pode também nos ajudar a entender a relação entre o pensamento e
linguagem, entre o desenvolvimento cognitivo e o desenvolvimento  lingüístico, entre o
cérebro e a mente.
1.4  Breve história dos estudos sobre aquisição de segunda língua
Embora, como vimos, a aquisição de segunda língua seja parte da nossa história de uso de
línguas, o estudo sistemático do fenômeno é considerado, por muitos pesquisadores da área,
como relativamente recente. Vários autores (por exemplo, Gass & Selinker, 2008; Ellis,
2008) concordam que o desenvolvimento e expansão do campo “aquisição de segunda
língua” como disciplina intelectual têm como marco inicial a segunda metade da década de
1960. Entretanto, outros autores (por exemplo, Thomas 1988; Block, 2003) consideram que
é difícil marcar com exatidão o início dos estudos e afirmam que a década de 1960 é eleita
como marco simplesmente porque foi aí que se notou, com mais consistência, o impacto da
pesquisa em aquisição de língua materna sobre a aquisição de segunda língua, tanto no que
diz respeito às questões investigadas quanto aos métodos utilizados. Para esses autores, é
mais justo, nesse caso, localizar o surgimento do campo de estudos “aquisição de segunda
língua” nas décadas de 1940 e 1950 em razão da coincidência de três importantes
acontecimentos.
O primeiro desses acontecimentos foi um interesse grande e contínuo pelo ensino e
aprendizagem de línguas, sobretudo nos Estados Unidos, durante e após a Segunda Guerra
Mundial (1941-1945, aproximadamente). Esse interesse foi provocado pela necessidade de
se conhecer modos efetivos, por parte dos serviços  secretos de inteligência, de
desenvolvimento de habilidades em segunda língua para a comunicação com aliados e para 8
o controle de inimigos. Desse modo, o governo norte-americano incentivou e financiou a
pesquisa de lingüistas famosos da época, entre os quais estavam Leonard Bloomfield e
Charles Fries. Uma das tarefas desses lingüistas era desenvolver cursos de línguas
especializados.
Leonard Bloomfield - Lingüista norte-americano (1887- 1949). Sua obra
mais importante, Language, foi publicada em 1933.
http://www.ling.su.se/fon/phoneticians/Leonard_Bloomfield_1.jpg
(http://www.veramenezes.com/behaviorismo.pdf)
Charles C. Fries, lingüista norte-americano, fundou o
Instituto da Língua Inglesa da Universidade de Michigan (https://editweb.lsa.umich.edu/eli)
   9
O segundo acontecimento importante foi o desenvolvimento e consolidação da influente
escola lingüística estruturalista americana, que utilizava o método descritivo para
demonstrar o funcionamento de uma língua: o lingüista primeiro coletava dados
lingüísticos em contextos naturais e, através da análise desses dados, descrevia as
categorias e estruturas sintáticas da língua.
Finalmente, o terceiro importante acontecimento da  época foi o behaviorismo que, como
você já viu em disciplinas anteriores, se baseava na premissa de que o comportamento
humano resulta do condicionamento. Tendo esse como um dos seus principais conceitos, os
behavioristas rejeitavam noções como “pensamento”,  “sentimento”, “intenções”, ou
qualquer outra que indicasse um processo mental. Para eles, o comportamento humano só
poderia ser explicado a partir do que era observável. Behavioristas influentes da época,
como John B. Watson, argumentavam que a psicologia deveria ter aplicações práticas em
atividades do nosso dia-a-dia e podemos ver tal aplicação na obra de Bloomfield,
Language, publicada em 1933.
 
Em Language, Bloomfield oferece uma detalhada explicação da interpretação behaviorista
para a aquisição de línguas e argumenta que a criança adquire sua língua materna através da
imitação, de analogias e da associação entre sons e respostas positivas ou negativas que
levavam ao reforço ou a uma mudança no comportamento (o princípio básico do padrão
estímulo-resposta). Para Bloomfield a aquisição de  língua era também a aquisição de
hábitos.
Não nos deteremos com cuidado sobre o behaviorismo como teoria de aquisição de línguas,
pois você, ao estudar a aquisição de língua materna deve ter tido contato com esta proposta
e todo o trabalho intelectual de Chomsky, principalmente, demonstrando sua inadequação.
O nosso objetivo agora é ter uma idéia da atmosfera intelectual em que o campo de estudos
sobre aquisição de segunda língua emergiu. Os três  acontecimentos que mencionamos
acima, juntos, constituem o que Block (2003) chama de “fundação” (ou seja, a base) sobre
a qual a área se ergueu – havia uma teoria de aquisição de conhecimento, havia uma teoria 10
de aquisição de línguas e havia uma compreensão de  que “segunda língua” se referia à
língua adquirida no contexto instrucional.
O primeiro resultado do interesse intelectual pela  aquisição de segunda língua, orientado
pelas concepções acima colocadas, foi a publicação  do livro  Ensinando e Aprendendo
Inglês como Língua Estrangeira, em 1945, por Charles Fries. O segundo resultado foi a
criação, em 1948, da primeira revista acadêmica internacional voltada para a publicação da
pesquisa em aquisição de segunda língua – Language Learning – a qual é publicada até o
momento.
http://www.wiley.com/bw/journal.asp?ref=0023-8333
Na década de 1950 novos avanços foram feitos na área, os quais estão representados em
três publicações agora consideradas clássicas. Uriel Weinreich publicou, em 1953, o livro
Languages in Contact (Línguas em Contato), obra que se tornou importante por duas
razões principais: Weinreich apresenta o aprendiz de segunda língua como “bilíngüe” e
elabora as definições de  transferência e  interferência. Em 1957, Robert Lado publica
Linguistics Across Languages, em que apresenta os fundamentos da análise contrastiva, a
qual foi tão amplamente aceita que resultou no desenvolvimento do método de ensino de
línguas conhecido por  audiolingualismo. No mesmo ano, o psicólogo behaviorista B.F.
Skinner publica Verbal Behavior (Comportamento Verbal), em que expõe sua controvertida
teoria de aquisição de língua. 11
Robert Lado (http://www.veramenezes.com/behaviorismo.pdf)
Como você aprendeu na disciplina sobre aquisição da linguagem, Skinner foi duramente
(mas também elegantemente) desafiado em suas idéias pela resenha do livro  Verbal
Behavior publicada por Noam Chomsky, em 1959, na revista Language. Nela, Chomsky
avalia os argumentos centrais de Skinner para questionar a validade da extrapolação dos
resultados de estudos conduzidos em laboratórios com animais para o domínio da língua
humana. Chomsky questiona também os conceitos de estímulo, resposta, analogia e reforço
para explicar a complexidade da aquisição e uso da língua. O final dessa história você já
sabe, não é?
As décadas de 1960 e 1970 são marcadas, conforme aponta Sharwood Smith (1994), por
dois avanços importantes: o desenvolvimento do conceito de interlíngua e do conceito de
construção criativa.  O primeiro é um desdobramento de uma das idéias apresentadas por
Stephen Pit Corder em um artigo extremamente importante para a área de aquisição de
segunda língua, publicado em 1967. Nesse artigo, intitulado The Significance of Learners’
Errors, Corder introduz várias noções conceituais até hoje fundamentais e as quais você vai
encontrar repetidamente ao longo do curso: input (insumo linguistico), intake (insumo
linguistico absorvido), a distinção entre erros e “deslizes”, são algumas. Na publicação,
Corder propõe que os erros cometidos por indivíduos que estão no processo de aquisição de
segunda língua não devem ser interpretados como falha na aprendizagem, mas sim como
evidência do estado da competência do aprendiz em um dado momento. A sistematicidade
e a coerência desses erros demonstram que o aprendiz está em um determinado momento
de seu processo. Na época essa foi uma idéia revolucionária e hoje ela é aceita como um
dos princípios da aquisição de segunda língua. 12
O outro conceito importante do período 1960-1970 é o de construção criativa, o qual foi
gerado a partir da visão de que os processos de aquisição de primeira e segunda línguas são
semelhantes e operados por mecanismos de aquisição dos quais não temos consciência. Em
síntese, a construção criativa se refere à idéia de que os erros cometidos por aprendizes de
segunda língua são, na realidade, resultado de processos cognitivos tais como a supergeneralização ou a simplificação, sendo muitas vezes os mesmos erros cometidos por
crianças quando adquirem aquela língua como língua  materna. De novo, aqui, temos a
noção, hoje amplamente aceita, de que os erros são  evidência do estágio de
desenvolvimento do aprendiz e não de uma inabilidade para aprender.
De 1980 até o presente momento, a história do campo de investigação “aquisição de
segunda língua” tem sido marcada por um dinamismo intelectual ímpar. A área tem tido, ao
longo desses anos, uma preocupação em desenvolver modelos teóricos que descrevam e
expliquem o processo de aquisição, de tal forma que hoje temos várias propostas
disponíveis, nenhuma ainda suficiente para dar conta da complexidade presente nesse
processo. Nas duas próximas unidades veremos o que considero as principais propostas. A
proliferação de modelos de aquisição se deve, em parte, à aceitação de que para
entendermos o processo de aquisição de língua temos que observá-lo de várias
perspectivas, utilizando diversas metodologias. A multiplicidade de visões, teorias,
métodos e definições gera, sim, controvérsias. Entretanto, proponho que tomemos uma
atitude positiva diante dessas controvérsias que, antes de serem um problema, são uma
demonstração do vigor da área e do nosso genuíno desejo de entendermos como duas ou
mais línguas co-habitam na mesma mente, no mesmo cérebro, na mesma personalidade.
 A área tem visto também (1) uma atenção maior à aquisição do conhecimento fonológico,
lexical e pragmático, em comparação à atenção quase exclusiva à aquisição dos aspectos
sintáticos nas primeiras décadas; (2) uma preocupação maior com o papel das diferenças
individuais no processo de aquisição, outro tópico do qual trataremos nesse curso; (3) uma
valorização dos estudos conduzidos com aprendizes em contextos de sala de aula (i.e., em
contextos instrucionais), no sentido de que os resultados destes estudos são agora usados 13
para explicar questões teóricas e não somente as pedagógicas; (4) uma ênfase nos aspectos
sociais da aprendizagem e um questionamento mais explícito dos conceitos utilizados na
pesquisa de orientação psicolingüística (por exemplo, as noções de falante nativo e nãonativo); (5) o uso cada vez mais freqüente de ferramentas de corpora para estudar as
características da língua produzida por aprendizes; (6) o uso de técnicas de neuroimagem
para investigar as estruturas cerebrais envolvidas na aquisição e processamento da segunda
língua.
É preciso ressaltar, entretanto, que uma grande parte do que sabemos sobre aquisição de
segunda língua é baseado nos estudos feitos com aprendizes de língua inglesa como
segunda língua. Nos últimos anos, vemos cada vez mais estudos com aprendizes de outras
línguas, mas estes ainda são poucos comparados àqueles. No que consideramos como
“corrente principal” da pesquisa em aquisição de segunda língua, há um número muito
menor ainda de estudos conduzidos com língua de sinais, o que pode ser tomado como um
convite para a pesquisa. Infelizmente, nos principais livros e revistas acadêmicas da área de
aquisição de segunda língua, é raro encontrarmos estudos sobre a aquisição de línguas de
sinais como segunda língua, de modo que o que há é realizado em um campo que não
dialoga com essa corrente principal. Por exemplo, na recente reedição de seu monumental
The Study of Second Language Acquisition, Rod Ellis (2008) faz apenas duas menções
rápidas às línguas de sinais – a primeira em uma nota de fim de capítulo e a segunda, para
exemplificar o conceito de “submersão”. Estamos falando de um livro de referência da área
de aquisição, com mais de 900 páginas de texto. Nesse sentido, é importante que você
concorde em refletir, tanto quanto possível, sobre  seu processo de aprendizagem de
segunda língua, principalmente se essa for LIBRAS,  para que desenvolva um
posicionamento crítico com relação a tudo que vamos encontrar agora. A sua reflexão é
importante também para determinar como o que vamos  aprender contribui para a sua
atuação profissional.
Você pode conhecer mais sobre Papua Nova Guiné e sua sociedade multilingüe
em: http://news.bbc.co.uk/1/hi/world/asia-pacific/country_profiles/1246074.stm14
UNIDADE 2
Teorias de aquisição de segunda língua (Parte A)
 
http://portal.unesco.org/en/ev.php-URL_ID=44549&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html
O objetivo principal desta unidade é iniciar a apresentação das principais teorias de
aquisição de segunda língua. Trabalharemos com essas teorias nessa unidade e na próxima.
Entretanto, antes de começarmos, vamos nos deter sobre a definição de alguns termos
importantes que serão usados ao longo do curso.
2.1 Definições de Termos
Como vimos na Unidade 1, o campo de conhecimento “Aquisição de Segunda Língua” é
alimentado intelectualmente por várias áreas do saber e esta é uma das razões pelas quais
temos observado uma proliferação de modelos de aquisição. Esta razão está relacionada a
uma outra, mais importante: o processo de aquisição de língua, primeira ou segunda, é
complexo, multidimensional e multifacetado e provavelmente precisamos da contribuição
de várias perspectivas teóricas para termos uma compreensão razoável deste processo.  15
Uma conseqüência desta pluralidade de visões, entretanto, é a maneira como conceitos
importantes para a área são definidos por diferentes autores. Por exemplo, alguns teóricos
gostam de fazer uma distinção entre os termos aquisição e aprendizagem. Para eles, o
processo de aquisição se dá de maneira inconsciente, geralmente em contextos ditos
naturais (ou seja, não instrucionais) e em situações de uso da língua para fins de
comunicação real, em interação com o outro. Nesse caso, o aprendiz desenvolve
conhecimento da língua apenas a partir de sua exposição a ela. Já o processo de
aprendizagem, para esses teóricos, é um processo consciente de retenção de conhecimento e
se dá em ambiente instrucional (na sala de aula da escola ou em cursos de idiomas) – ou
seja, para eles, a aprendizagem é resultado da instrução.
Esta distinção é considerada muito controversa porque está baseada em um construto
problemático que é o da consciência. De fato, tem sido um grande desafio demonstrar
experimentalmente quando a retenção de conhecimento resulta de um processo
inconsciente ou de um processo consciente por parte do aprendiz. É bastante provável que
os dois processos ocorram de forma contígua tanto em ambientes naturais quanto em
ambientes instrucionais. Assim, durante o nosso curso, vamos usar os termos aquisição e
aprendizagem de maneira intercambiável para nos referirmos à retenção de conhecimento e
à criação de representação mental em uma língua.
Alguns teóricos também estabelecem uma distinção entre segunda, terceira, quarta língua e
entre esses termos e o termo língua estrangeira. Na primeira distinção, o critério é a ordem
de aquisição – a primeira língua adquirida depois da materna é a sua segunda língua e assim
por diante. No nosso curso, vamos usar sempre o termo segunda língua para nos referirmos
a qualquer língua adquirida depois da materna.
A segunda distinção (segunda língua vs. língua estrangeira) é estabelecida a partir do papel
que a língua tem na sociedade em que o processo de aquisição está acontecendo. Assim, no
caso do termo  segunda língua, a língua tem um papel institucional e social bem
consolidado na comunidade em que o aprendiz está inserido. Além disso, ela é reconhecida
como a língua de comunicação entre os membros daquela sociedade. Por exemplo, quando 16
estudamos inglês na Inglaterra ou nos Estados Unidos, o inglês é para nós, aprendizes, uma
segunda língua, enquanto estivermos lá. No caso do termo língua estrangeira, a língua não
tem nenhum papel institucional ou social relevante, sendo, na maioria das vezes, somente
objeto de instrução. É o caso do inglês no Brasil.
A diferença que alguns teóricos estabelecem para esses dois termos é, como estamos vendo,
de natureza sociolingüística, mais do que psicolingüística. De fato, nossa experiência e
observação nos mostram que o processo de aquisição  pode ser afetado se adquirimos a
segunda língua em um ambiente de imersão ou em um ambiente em que a exposição à
língua é reduzida, mas os estudos que mostram como o contexto de aquisição interage com
e afeta o processo de aquisição ainda são bastante  incipientes. Assim, como recomenda
Ellis (2008), manteremos uma postura aberta em relação a essa diferença e à possibilidade
de o contexto afetar o processo de aquisição mas, para facilitar nossa interlocução,
usaremos o termo “segunda língua” para ambas as situações, nos referindo a esse termo, na
maioria das vezes, como L2.
Como você verá a seguir, as visões sobre o processo de aquisição de segunda língua que
estudaremos são chamadas, algumas, de teorias, outras de modelos e outras, ainda, de
hipóteses. Você verá que, de fato, há uma diferença no escopo de cada uma dessas visões e
por isso as diferentes maneiras de denominá-las. Segundo os pesquisadores Bill VanPatten
e Jessica Williams (2007), uma teoria, mais abrangente em escopo, explica um fenômeno e
faz previsões sobre ele, procurando unificar os vários aspectos desse fenômeno. O grande
objetivo de uma teoria é explicar o porquê dos fenômenos. Assim, podemos dizer que o
behaviorismo é uma teoria de aquisição do conhecimento.
Um modelo, por sua vez, descreve os processos que fazem parte de um fenômeno e,
idealmente, descreve como esses processos interagem. O grande objetivo aqui é explicar
como. O Modelo Monitor, proposto por Krashen (1978), seria um exemplo. 17
Finalmente, uma hipótese é uma proposição sobre um  dos muitos aspectos de um
fenômeno, e não tem a intenção de unificar esses aspectos. A hipótese da percepção
consciente (a Noticing Hypothesis), proposta por Dick Schmidt (1995), é um exemplo.
É preciso lembrarmos que, embora nem sempre a diferença entre os termos teoria, modelo
e hipótese vá ser imediatamente percebida nas propostas que vamos estudar, saber que há
diferenças em termos de quão abrangente a proposta deve ser nos ajuda a entendê-la.
2.2 O Modelo Monitor
O Modelo Monitor, proposto por Stephen Krashen em 1978, é uma das primeiras propostas
de aquisição de L2 do período pós-behaviorista e a que mais provocou debate na área até o
presente momento. Originalmente chamada de Modelo Monitor, é também conhecido como
Hipótese do Insumo (Input Hypothesis) e, mais recentemente, como Hipótese da
Compreensão (Comprehension Hypothesi). Krashen adota a noção do dispositivo de
aquisição de linguagem e organiza seu Modelo através de 5 hipóteses sobre a aquisição de
L2. São elas:
A– A Hipótese da Aquisição-Aprendizagem: Há uma diferença entre  aquisição e
aprendizagem da segunda língua. A  aquisição é um processo subconsciente e requer o
dispositivo de aquisição de linguagem, que nos é inato e que é responsável pela aquisição
da língua materna (L1). A aquisição se dá de forma  natural e emerge espontaneamente
quando o aprendiz está envolvido em situações de interação e tem seu foco de atenção no
significado. É um processo similar à aquisição de L1. Para a aquisição acontecer não é
preciso nem instrução nem intenção de aprender e o conhecimento que resulta é de natureza
implícita. Já a  aprendizagem é um processo consciente de obtenção de conhecimento
explícito sobre a L2 e é, tipicamente, o processo que se dá nos contextos instrucionais. A
aprendizagem resulta de uma intenção de aprender e  o uso do conhecimento aprendido
exige esforço.
Esta é a hipótese mais importante do Modelo e um aspecto crucial aqui é que, para
Krashen, os processos de aquisição e aprendizagem não interagem. É por essa razão, 18
segundo Krashen, que às vezes apesar de sabermos uma regra gramatical nem sempre
conseguimos aplicá-la quando estamos usando nossa L2 para fins de conversação. O
conhecimento aprendido é ineficaz na conversa espontânea. Ou, às vezes, usamos uma
palavra ou uma regra gramatical perfeitamente quando estamos falando a língua, mas não
sabemos explicar como ou porquê sabemos aquela palavra ou regra. É o conhecimento
adquirido em ação.
B – A Hipótese do Monitor: O conhecimento que resulta da aprendizagem, no âmbito do
Modelo, tem como função monitorar, revisar ou corrigir a língua que é produzida – a qual é
fruto do conhecimento adquirido. Como aprendizes, somente precisaremos do
conhecimento obtido através da aprendizagem nas situações em que temos que observar se
as formas que estamos usando estão corretas (por exemplo, durante um teste ou uma
entrevista para emprego). Como a razão principal para o uso de uma L2 é a interação social,
podemos ver que o conhecimento que é fruto da aprendizagem, no Modelo, não tem um
papel importante e por isso, para Krashen, não deve ser enfatizado.
C – A Hipótese da Ordem Natural: A aquisição da gramática da L2 se dá em uma ordem
previsível, independente do seu grau de complexidade e da ordem em que é ensinada em
contextos de sala de aula.
D – A Hipótese do Insumo: A aquisição da L2 só pode acontecer se o aprendiz for exposto
ao que Krashen chamou de insumo compreensível, outro construto de grande importância
no Modelo. O “insumo compreensível” contém insumo linguístico que está um nível acima
do nível de proficiência do aprendiz – ou seja, é um insumo rico no que diz respeito aos
aspectos lexicogramaticais e, sugerimos, a todos os outros aspectos, da L2. Krashen, ao
definir o termo “insumo compreensível” introduziu o construto i, em que i é o nível em que
o aprendiz se encontra, e a fórmula i + 1, que se refere ao nível acima. Para que a aquisição
da segunda língua ocorra de forma natural e espontânea o aprendiz precisa estar exposto a
esse insumo rico e compreensível, levemente acima de seu nível de proficiência, em
situações de uso da língua para a comunicação, com  foco no significado. O insumo 19
compreensível vai interagir com o dispositivo de aquisição de linguagem e, nesse caso, a
aquisição é inevitável.
Há outro aspecto importante nessa hipótese. Krashen propõe que a instrução sobre as regras
gramaticais da segunda língua tem pouca utilidade, pois essa informação não será utilizada
quando falarmos a língua. Ele também propõe que, sendo a aquisição produto da
compreensão de insumo linguistico rico e levemente acima do atual nível de proficiência do
aprendiz, produzir a língua (i.e., falar, escrever) não é necessário. A produção da língua é,
antes, um resultado da aquisição (e não sua causa) e forçar o aprendiz a falar quando ele
não está preparado pode inibi-lo.
E- A Hipótese do Filtro Afetivo: Para que a aquisição ocorra, o aprendiz deve estar
receptivo ao insumo, sentindo-se confortável na situação de aquisição e demonstrando uma
atitude positiva em relação à L2. Ou seja, seu filtro afetivo deve estar baixo. Aprendizes em
situações de estresse, com baixa auto-estima e inseguros, ou com uma atitude negativa em
relação à língua e sua cultura, têm seus filtros afetivos altos e, portanto, bloqueiam a
interação do insumo compreensível com o dispositivo de aquisição de linguagem.
Apesar de ter sido duramente criticado por muitos pesquisadores,principalmente por fazer
afirmações para as quais não há evidências ou há dificuldade metodológica de se obter
evidência confiável, o Modelo Monitor exerceu uma grande influencia na área de aquisição
de L2 durante as décadas de 1980 e 1990, sendo a maior delas a decisão que muitos
profissionais da área de metodologia de ensino de L2 tomaram de não se ensinar os
aspectos formais da segunda língua na sala de aula.
2.3 A Gramática Universal
Durante a década de 1980 um outro arcabouço teórico sobre a aquisição da linguagem se
desenvolveu de maneira rápida e ganhou força intelectual: a Gramática Universal.
Considerando que você já tem razoável conhecimento sobre como esta perspectiva, que dá 20
continuidade às idéias de Chomsky, explica a aquisição de L1, vamos nos concentrar no
caso “segunda língua”.
Os pesquisadores que elegem a Gramática Universal (GU) como a teoria que melhor
explica a aquisição de L2 se preocupam em responder a três perguntas:
• Qual é o estado inicial da aprendizagem?
• Qual é a natureza da interlíngua e como esse sistema se desenvolve ao longo do
tempo?
• Qual é o estado final da aprendizagem?
Vamos abordar cada pergunta por vez e iniciaremos com o estado inicial da aprendizagem
de L2.
Ao se deparar com a tarefa de aprender uma outra língua, o aprendiz já tem um sistema
lingüístico a sua disposição e, guiado pela GU, já  estabeleceu todas as escolhas
paramétricas relacionadas a sua L1. Uma parte do conhecimento da nossa L1 é transferida
para a segunda língua, embora não saibamos com exatidão que aspectos são transferidos e
em que grau porque essa definição depende da proximidade entre nossa L1 e a segunda
língua e as circunstâncias de aprendizagem, entre outros fatores. Quando os parâmetros da
L1 e da segunda língua são os mesmos para o mesmo principio, temos  transferência
positiva. Quando são diferentes, uma transferência negativa ou interferência pode ocorrer.
Por exemplo, em inglês, quando queremos expressar concordância podemos usar a
estrutura So + Aux + I, como na interação a seguir:
-I’m a student!
-So am I.
Entretanto, o uso dessa estrutura é às vezes problemático para falantes de língua portuguesa
em função da inversão sujeito verbo e da atenção extra que o falante tem que ter sobre o
tempo do verbo auxiliar. Por exemplo:
- I went to the movies last night. 21
- So did I.
Diríamos que para internalizar a estrutura que expressa concordância em língua inglesa, o
aprendiz brasileiro tem que restabelecer um parâmetro. Na tentativa, ao ouvirmos orações
mais longas e complexas, provavelmente vamos insistir na ordem canônica sujeito/verbo
(*So I did), em uma transferência negativa, ou simplesmente vamos responder como
geralmente o fazemos em português - me too! – em uma transferência positiva.
Em Libras, um exemplo de transferência positiva seria a expressão da idéia “Ela nada todos
os dias”. A ordem dos elementos dessa oração é a mesma nas duas línguas e o aprendiz de
Libras como L2 não teria problemas em expressá-la. Já no caso de “depois de amanhã”, o
individuo que tem como língua materna a língua portuguesa e está em processo de
aquisição de Libras como L2 provavelmente tenderia  a reproduzir a mesma ordem dos
elementos, comprometendo o sentido da expressão, em uma transferência negativa.
 
Muitos pesquisadores acreditam que no estágio inicial da aquisição de segunda língua, o
aprendiz pode ainda ter acesso à GU. Como essa afirmação é controversa, há atualmente 4
propostas com relação a esse acesso quando estamos em processo de L2:
1 – Temos total acesso à GU como um guia inato à aquisição de língua.
2 – Temos acesso parcial à GU, já que mantemos alguns de seus componentes, mas não
outros.
3 – Temos acesso indireto à GU através de nossa L1. Os parâmetros de nossa L1 servirão
de base para a L2.
4 – Não temos mais acesso à GU e devemos adquirir a segunda língua por meios
completamente diferentes daqueles que adquirimos nossa L1.
Tomando agora a segunda pergunta que os teóricos da GU tentam responder com relação à
L2, as considerações sobre a natureza da interlíngua e como ela se desenvolve dependem,
em parte, da posição que tomamos com relação ao acesso à GU. Interlíngua, nessa teoria de
aquisição, são os estágios intermediários de desenvolvimento (IL1, IL2, IL3) da segunda
língua. Assim, se aceitarmos a idéia de que temos pelo menos algum acesso à GU, o
processo de desenvolvimento da interlíngua consiste em restabelecer parâmetros com base 22
no insumo lingüístico a que estivermos expostos. Esse, enfatize-se, é um processo
geralmente inconsciente. Se mecanismos de aquisição de línguas ainda estiverem
disponíveis para nós aprendizes, o insumo lingüístico presente no ambiente é suficiente
para que estabeleçamos novos parâmetros com base em evidência positiva – ou seja, em
insumo que obtemos em contextos naturais de uso da língua.
Evidência negativa – ou seja, insumo lingüístico que obtemos através de correção explicita
ou implícita de um enunciado que produzimos – provavelmente também nos ajuda a
restabelecer parâmetros na segunda língua. Entretanto, o fato de que geralmente não
alcançamos, na segunda língua, o mesmo grau de competência que temos em nossa L1, põe
em dúvida nosso acesso à GU e abre a possibilidade de considerarmos esses dois processos
de aquisição como fundamentalmente diferentes.
Por fim, com relação ao estado final da aprendizagem (a terceira pergunta que
pesquisadores que se afeiçoam a essa teoria procuram investigar), você sabe, por
experiência, que há uma grande variação entre os aprendizes em termos de quanto e como
eles conseguem adquirir a segunda língua. Sabemos que, no caso da L2, mesmo que esses
aprendizes sejam expostos ao mesmo insumo na mesma  quantidade e nas mesmas
condições, haverá uma grande variação no resultado  final da aquisição, com alguns
adquirindo mais e outros menos, de forma mais rápida ou mais devagar. Além disso, o
ritmo e a quantidade de aprendizagem variam também ao longo das diferentes dimensões
da língua (fonológica, morfológica, sintática, semântica e pragmática, por exemplo). Em
contrapartida, em se tratando da nossa L1, a variação individual é mínima: todos somos
bem sucedidos em nosso processo de aquisição da língua materna e somos perfeitos
usuários por volta da mesma idade. A questão do ‘sucesso’ na aquisição de L2 é um dos
grandes desafios que os teóricos que partilham da visão da Gramática Universal têm a sua
frente.
Para saber mais sobre a Gramática Universal: http://www.veramenezes.com/gu.pdf  23
UNIDADE 3
Teorias de aquisição de segunda língua (Parte B)
http://www.ehow.com/how_2325820_easily-translate-any-foreign-language.html
Nesta Unidade daremos continuidade ao estudo de teorias de aquisição de segunda língua.
Como afirmado anteriormente, há um grande número de teorias e modelos que tentam
explicar o processo de aquisição de L2 e a escolha por um ou outro modelo nem sempre é
fácil. Assim, as duas teorias que veremos agora foram selecionadas com base na nossa
percepção de quão inovadoras essas teorias são. Ou  seja, as teorias apresentadas aqui
trazem novos olhares sobre o processo de aquisição  da L2 e por isso merecem nossa
atenção.
3.1 A Teoria Associativa-Cognitiva CREED
A Teoria Associativa-Cognitiva CREED, proposta por  Nick Ellis, é uma teoria bastante
recente e a exposição mais completa sobre seus pressupostos pode ser encontrada na
publicação de VanPatten & Williams (2007), a qual faz uma excelente introdução às teorias
de aquisição de L2. Antes de 2007, Ellis foi apresentando a teoria em diversos artigos e
publicações, sempre de maneira relativamente parcial.  24
A premissa central desta teoria é a de que a aquisição de L2 é um processo que, embasado
no conceito de Construção, é Racional, dirigido por Exemplos, é Emergente e Dialético.
Cada um desses termos será explicado a seguir.
Para Nick Ellis, os mecanismos de aquisição de L2 são os mesmos que se aplicam à
aquisição de qualquer outra habilidade: para ele, a aquisição é governada por leis gerais de
aquisição do conhecimento. Estas leis gerais são de natureza associativa e cognitiva.
Nesta teoria, as unidades básicas de representação mental da L2 são o que Ellis chama de
construção. Construções são relações de forma e significado em que as propriedades
morfológicas, sintáticas e lexicais das formas estão associadas às funções semânticas,
pragmáticas e discursivas específicas. O conceito de construção utilizado por Ellis é
adaptado de teorias funcionais de aquisição de línguas e da lingüística cognitiva, as quais
postulam que aprendemos línguas (e, portanto, essas construções) através da comunicação.
Ellis afirma, em sua teoria, que nossa competência lingüística na L2 resulta da combinação
de dois fatores: (1) a memória dos enunciados ao qual somos expostos durante uma
interação comunicativa e (2) a indução das regularidades presentes nesses enunciados, as
quais são percebidas por nós em função de sua freqüência.
Ellis postula que uma grande parte dessas construções na L2 são de natureza lexical e nós
as aprendemos através do uso freqüente. Por exemplo, um aprendiz de português como L2
provavelmente vai aprender a expressão “Beleza!” e tudo o que ela significa (quando é
usada, o que expressa, a entonação com que é produzida) pela freqüência com que a vê e
ouve ser usada. Isso acontece porque uma característica importante de nosso sistema
cognitivo é a capacidade que temos de perceber o grau de probabilidade dos eventos no
ambiente em que vivemos. Essa nossa capacidade nos  permite, através de processos
cognitivos sobre os quais não temos consciência, determinar o que é mais provável de ser
realizado lingüisticamente em uma dada situação. Ellis menciona que vários estudos na
área da psicolingüística demonstram que falantes de línguas estrangeiras fluentes são
sensíveis à probabilidade de ocorrência de construções lingüísticas. É esse mecanismo – o 25
de abstrair a probabilidade relativa de ocorrência de uma dada construção lingüística – que
permite ao aprendiz interpretar “Beleza!” de forma correta na interação abaixo:
A – Então, combinado: nos encontramos amanhã às 9 para terminar o
trabalho.
   B – Beleza!
Embora Ellis faça uso do conceito de “associação”,  ele afirma que a associação de uma
forma ao um significado resulta do uso. Através da  experiência, de exposição contínua,
sistemática e freqüente às construções (que tem relações de forma-significado), o sistema
de percepção do aprendiz se aperfeiçoa em estabelecer expectativas com relação à
ocorrência dessas construções. A retenção das construções em nossa memória de longo
prazo – ou seja a aprendizagem dessas construções – depende também da saliência da
forma e da importância da função a ela associada.
A Teoria Associativa-Cognitiva caracteriza o processo de aquisição de L2 como racional e
isso quer dizer que a compreensão que os aprendizes têm sobre como a língua funciona, em
qualquer momento do processo de aprendizagem, é a melhor possível. A representação
mental que o aprendiz tem, em qualquer momento de seu processo de aprendizagem, é a
melhor que pode ter e essa representação está programada para fazer o aprendiz prever as
construções lingüísticas que são mais prováveis de serem realizadas em um determinado
contexto ou interação comunicativa. Ou seja, como aprendizes, segundo essa teoria, nosso
preparo para compreender e produzir a L2 está sempre otimizado.
É muito importante salientar que, para Ellis, a aquisição de L2 é um problema de
aprendizagem estatística intuitiva e consiste da aquisição de representações mentais que
expressam a probabilidade de ocorrência de pares “forma-significado”. Ellis afirma que a
tarefa do aprendiz é “desvendar” a língua e isso pode ser realizado através da freqüência,
recentividade e do contexto de uso das construções. Para ele, uma grande parte da
aprendizagem também é realizada através de exposição a  exemplos de uso. Podemos
adquirir desde sons e palavras até expressões inteiras e mesmo regras abstratas sobre a 26
realização de um item linguistico através da exposição a esses estímulos. A partir dessa
exposição, utilizamos mecanismos de generalização para criar e utilizar novas construções.
Com base na idéia de que a língua é um sistema complexo, que exige a interação de muitas
partes, Ellis propõe em sua teoria que a sistematicidade da língua é emergente – ela surge
ao longo do tempo, de maneira complexa, surpreendente, dinâmica e adaptativa.
Finalmente, nessa teoria, a visão de que o processo de aquisição é associativo e cognitivo,
resultante da exposição ao uso da língua, também tem como premissa o fato de que esse
processo é dialético, no sentido de que o aprendiz está em uma tensão consciente entre o
seu nível de conhecimento da língua e o feedback que recebe (na forma de correção).
3.2 O Modelo Declarativo/Procedimental
Na seção anterior, você foi apresentado(a) a uma teoria de aquisição de L2 que tem bases
fortes em princípios do conexionismo e de teorias de aquisição da linguagem baseadas no
uso. Nesta seção trataremos de uma outra perspectiva, também recente, sobre o processo de
aquisição de L2: o Modelo Declarativo/Procedimental, proposto por  Michael Ullman,
professor do Departamento de Neurociências da Georgetown University.
O Modelo Declarativo/Procedimental (Ullman et al. 1997; Ullman, 2001; Ullman, 2004;
Ullman, 2005) é um modelo de natureza neurocognitiva – ou seja, procura explicar as bases
neurais, cognitivas e computacionais da aquisição – e foi proposto, primeiramente, para
explicar a aquisição de língua materna. Estendendo seu modelo, Ullman propõe que a L2 é
adquirida e processada por dois sistemas cerebrais, distintos entre si e desde muito
estudados na área da neurocognição – a memória declarativa e a memória procedimental --
os quais são também utilizados em funções específicas de natureza não-lingüística em
humanos e em animais.
Uma das principais premissas do Modelo Declarativo/Procedimental é a de que a
linguagem depende de duas habilidades mentais: um léxico mental – que inclui todas as
palavras que conhecemos na forma de associações som-significado, todas as informações 27
relacionadas a essas palavras (por exemplo, se o verbo X exige um objeto direto ou
indireto), informações sobre morfemas e sobre estruturas complexas tais como expressões
idiomáticas – e uma gramática mental que contem regras gerativas as quais permitem a
combinação de palavras em um número infinito de palavras ainda maiores, grupos verbais e
nominais e orações. O léxico mental, segundo Ullman, é armazenado, memorizado,
enquanto a gramática mental é computacional e opera através de regras. Desse modo, outra
premissa fundamental desse modelo – talvez a mais importante – é a de que a distinção
entre as duas capacidades da linguagem – o léxico mental e a gramática mental – estão
relacionadas à distinção entre os dois sistemas cerebrais – a memória declarativa e a
memória procedimental.
Com base na pesquisa teórica e empírica sobre as bases neurocognitivas da linguagem,
Ullman afirma que o sistema cerebral denominado memória declarativa subjaz à
aprendizagem, representação e uso do conhecimento sobre fatos e eventos, sendo um
sistema importante para a aprendizagem de relações  arbitrárias. O conhecimento
armazenado na memória declarativa é em parte explícito e, portanto, possível de ser
acessado através da introspecção.
O sistema de memória declarativa tem como correlato neural as regiões mediais (i.e., em
direção ao meio do cérebro) do lobo temporal – como por exemplo o hipocampo— as quais
são conectadas às regiões temporais e parietais neocorticais. Outras estruturas que também
têm um papel importante na memória declarativa que, como vimos, subjaz ao léxico
mental, são o córtex pré-frontal ventro-lateral e o cerebellum direito.  28
 
http://virtualpsy.locaweb.com.br/adm/img2/areas_cerebrais.jpg
Já o sistema de memória procedimental é responsável pela aprendizagem de habilidades e
hábitos cognitivos e motores novos, especialmente aqueles que envolvem seqüências. Este
sistema também é responsável pelo controle dessas habilidades e hábitos quando já estão
consolidados. O conhecimento armazenado nesse sistema de memória não está acessível à
introspecção e por isso, Ullman afirma, esse sistema é conhecido também como um sistema
de memória implícita.
Os correlatos neurais desse sistema consistem de várias regiões cerebrais interconectadas.
O sistema de memória procedimental depende de estruturas no hemisfério esquerdo e tem
raízes em circuitos neurais que englobam os lobos frontais e os gânglios da base, as quais
são estruturas subcorticais que possui fortes conexões com o córtex frontal.  29
  http://www.guia.heu.nom.br/images/Sistema%20limbico.jpg
Na região do córtex frontal, duas áreas são muito importantes: as áreas pré-motoras,
principalmente a região da área motora suplementar, e a área de Broca, principalmente as
porções posteriores nessa área. Outras estruturas que subjazem ao sistema de memória
procedimental são as porções inferiores do córtex parietal e o cerebelo. 30
http://www.sciam.com/media/inline/200807/brain_3
 
Como apontamos anteriormente, o Modelo Declarativo/Procedimental postula que, na
aquisição da língua materna, o sistema de memória declarativa subjaz ao léxico mental
enquanto o sistema de memória procedimental subjaz  à gramática mental, inclusive aos
aspectos morfológicos, sintáticos e fonológicos. Este sistema é particularmente importante
na construção de estruturas sintáticas – ou seja, estruturas que exigem a combinação
seqüencial e hierárquica de formas lexicais e de representações abstratas em termos de
grupos nominais e verbais.
Além disso, os dois sistemas interagem de forma cooperativa, mas também competitiva na
aquisição e uso da língua: a funcionalidade do sistema declarativo pode suprimir a
funcionalidade do sistema procedimental e vice-versa. Por exemplo, crianças em fase de
aquisição da primeira língua podem ter aprendizagem do léxico facilitada mas isso pode
suprimir a aprendizagem procedimental de conhecimento gramatical.
O modelo também prevê diferenças individuais na aquisição e uso do conhecimento
gramatical e lexical e, nesse aspecto, o modelo estabelece, inclusive, diferenças entre os
sexos. Desse modo, as mulheres apresentam vantagens no sistema declarativo e, 31
conseqüentemente, demonstram habilidades lexicais superiores, quando comparada aos
homens. O sistema declarativo é sensível aos níveis de estrogênio, que é mais alto em
mulheres jovens e em mulheres na fase pré-menopausa. Já os homens apresentarão melhor
desempenho em aspectos da gramática que dependem do sistema procedimental. Essas
diferenças entre os sexos permitem que o modelo possa prever que as mulheres tendem a
memorizar formas complexas, usando o sistema declarativo, enquanto os homens aplicam
regras computacionais e combinatórias para estas mesmas formas usando o seu sistema de
memória procedimental.
O Modelo Declarativo/Procedimental faz previsões um tanto quanto diferentes para o caso
da L2 que é adquirida após a puberdade. Segundo Ullman, em comparação com a aquisição
de L2 durante a infância, a aquisição tardia da L2 – ou seja, durante a nossa vida adulta –
vai ser mais problemática no que diz respeito à gramática (que deveria ser adquirida pelo
sistema procedimental) do que ao léxico (que é adquirida pelo sistema declarativo). Isso se
deve a uma série de fatores e, entre eles, a diminuição de nossa capacidade em abstrair
regras em função do aumento da nossa capacidade de memória de trabalho
1
, a atenuação da
memória procedimental e o incremento da memória declarativa na vida adulta.
Estes dois últimos fatores são possivelmente resultantes da ação do estrogênio a partir da
adolescência (tanto em meninos quanto em meninas, mas mais em meninas), já que
sabemos que o estrogênio inibe o sistema de memória procedimental e incrementa o
sistema de memória declarativa. Além disso, o efeito gangorra, em que a aprendizagem em
um sistema inibe a aprendizagem no outro, pode contribuir para o fato de que ganhos na
memória declarativa sejam obtidos através da atenuação de ganhos no sistema de memória
procedimental.
Dessa forma, na aquisição tardia da L2, em função da relativa facilidade de aprendizagem
pelo sistema declarativo de memória, os aprendizes  utilizarão mais esse sistema mesmo
para aprender aqueles aspectos da língua que dependem do sistema de memória
                                                         
1
 Veremos o conceito de memória de trabalho na próxima Unidade. 32
procedimental. Aprendizes de L2 adultos, nesse caso, tendem a usar o sistema declarativo
para adquirir e usar aspectos da língua que geralmente são adquiridos e usados através do
sistema procedimental por parte de falantes nativos. É o caso das regras computacionais da
gramática.
O Modelo Declarativo/Procedimental, dessa forma, prevê uma certa atrofia do sistema de
memória procedimental na aquisição tardia da L2, mas afirma também que o
armazenamento de formas complexas e de regras combinatórias no sistema de memória
declarativo pode levar a bons níveis de proficiência, dependendo de alguns fatores. Entre
esses fatores estão a quantidade e tipo de exposição à L2 e diferenças individuais relativas
ao sistema declarativo.
No caso das diferenças individuais, as mulheres estão em vantagem já que, como vimos,
esse sistema é sensível aos níveis de estrogênio – um hormônio que é maior em mulheres.
Entretanto, em virtude das características do sistema declarativo de memória, o Modelo
prevê que esse sistema, sozinho, não levará ao desenvolvimento completo da proficiência
gramatical porque ele não substitui as funções do sistema de memória procedimental.
O Modelo postula, também, que não haverá uma disfunção completa do sistema de
memória procedimental na aquisição tardia da L2. Usando evidencia de estudos em áreas
outras que a aquisição de línguas, Ullman (2005) argumenta que a prática da L2 deve levar
à aprendizagem procedimental e ao aperfeiçoamento do desempenho. Assim, com
exposição adequada e suficiente à L2, o processamento da língua se tornará equivalente ao
processamento da L1 pelo sistema procedimental, no  que diz respeito ao conhecimento
gramatical.
Para finalizar é importante ainda ressaltar que o Modelo Declarativo/Procedimental
também postula que a aprendizagem da L2 por adultos mais velhos vai ser diferente da
aprendizagem da L2 por adultos mais novos. Segundo  Ullman (2005) a habilidade do
sistema declarativo de aprender novas informações diminui com a idade e isso se dá, em
parte, em função da diminuição dos níveis de estrogênio, em ambos os sexos, mas de forma 33
mais acentuada nas mulheres. Outro fator importante é que a aprendizagem de
determinados tipos de conhecimento – tais como a aprendizagem de seqüências complexas,
que é o caso da gramática – também declina com a idade. Aprendizes adultos mais velhos,
assim, terão mais dificuldade que aprendizes adultos mais novos não só naqueles aspectos
da língua que são adquiridos pelo sistema declarativo, mas também pelo sistema
procedimental. 34
UNIDADE 4
Teorias de Aquisição de L2
Henry Matisse (1869 – 1954) Dance
       www.allposters.com
Nesta Unidade trataremos de outras duas teorias que abordam o fenômeno de aquisição de
L2, cada uma, a partir de uma perspectiva diferente. Ambas se diferem bastante também
das teorias apresentadas na Unidade anterior, as quais têm como base princípios da
psicologia cognitiva e da neurociência cognitiva. Agora discutiremos a Teoria Sociocultural
e a Teoria de Insumo-Interação-Produção.
4.1 A Teoria Sociocultural
Vimos, na Unidade 3, que a Teoria Associativa-Cognitiva CREED utiliza princípios de
teorias baseadas no uso da língua – ou melhor, da língua em uso, em contraposição a
princípios formulados a partir de situações hipotéticas ou idealizadas. Essa é uma tendência
forte nos estudos de aquisição e uma conseqüência é que a área incorporou teorias,
conceitos e noções que extrapolam os aspectos lingüísticos e psicolingüísticos que tentam
explicar o que se passa na mente do aprendiz. Uma dessas teorias é a Teoria Sociocultural,
cujo principal representante na área de L2 é Jim Lantolf.   35
A Teoria Sociocultural, baseada no trabalho do psicólogo russo Vygotsky, tem como
fundamento a ontologia do individuo social (Gass &  Selinker, 2008). Nessa teoria, a
aquisição de segunda língua é um processo situado contextualmente e é a partir dessa
perspectiva que a teoria explica os processos cognitivos relacionados à aprendizagem. Os
processos de desenvolvimento cognitivo são implementados através da participação do
indivíduo em contextos com estrutura cultural, lingüística e histórica. Exemplos de tais
contextos são a vida em família, a interação entre  colegas e contextos institucionais tais
como a escola, as atividades esportivas organizadas e o local de trabalho (Lantolf &
Thorne, 2007). A Teoria Sociocultural reconhece que a neurocognição é importante para
explicar nossos processos mentais de ordem mais elevada (como a memória, por exemplo),
mas as atividades cognitivas mais importantes se desenvolvem através da interação social.
 http://web.syr.edu/~agforbes/KB-C/Photos/vygotsky1.jpg
Há pelo menos 4 conceitos muito importantes na Teoria Sociocultural. Estes são os
conceitos de  mediação,  regulação,  internalização e o conceito de  Zona de
Desenvolvimento Proximal. Destes, o mais importante é o conceito de mediação porque,
segundo a Teoria Sociocultural, toda atividade humana –inclusive a atividade cognitiva—é
mediada por artefatos simbólicos e artefatos materiais. Artefatos simbólicos são
instrumentos culturais de alto nível tais como a linguagem e o letramento. Os artefatos
materiais fazem a mediação da relação entre nós, humanos, e o mundo social e material em 36
que vivemos. Os artefatos simbólicos são usados para fazer a mediação da nossa atividade
cognitiva e para controlar nossos processos mentais. Esse controle é voluntário e nos
permite prestar atenção a algumas coisas ao invés de outras, a planejar ações e a pensar de
forma racional.
O principal artefato simbólico que possuímos é a linguagem e é através dela que nos
conectamos ao ambiente físico e social a nossa volta. A linguagem também permite que nós
extrapolemos o ambiente imediatamente a nossa volta e façamos referência a objetos e
eventos distantes no tempo e no espaço.
A regulação é uma forma de mediação. Como explicado por Lantolf e Thorne (2007), as
palavras servem para denominar objetos e ações, mas também para reconfigurar nossa
percepção biológica em termos de percepção cultural e conceitos. Nos estágios iniciais do
desenvolvimento infantil, os pensamentos e as ações das crianças estão condicionados às
palavras dos adultos. O condicionamento do comportamento infantil à fala do adulto faz
com que a criança adquira aquela fala, aquela linguagem em particular, usando essa
modalidade para regular seu próprio comportamento.  As crianças desenvolvem a
capacidade de regular lingüisticamente suas próprias ações participando em atividades que
são primeiramente subordinadas – ou reguladas – por outros.   O objetivo último é que a
criança alcance a auto-regulação, mas há três estágios para que ela seja alcançada.
No primeiro estágio, a criança usa objetos ou é controlada por eles para pensar. Lantolf e
Thorne (2007) dão a seguinte situação como exemplo de controle do objeto sobre a criança:
ao receber o pedido da mãe para que pegue um brinquedo, a criança se distrai com outros
brinquedos e esquece de atender o pedido da mãe. Um exemplo do uso de objetos para
regular a atividade mental é a aprendizagem de matemática por crianças em estágio inicial
– geralmente, porque a criança não consegue fazer as operações matemáticas mentalmente,
pais e professores fazem uso de objetos para ajudá-las a contar. Esse estágio é denominado
“regulação pelo objeto”. 37
O segundo estágio, denominado regulação pelo outro, envolve mediação implícita e
explícita através de vários tipos de assistência, direção e scaffolding (“andaime”) por parte
dos pais, familiares e professores.
O estágio final, auto-regulação, é alcançado quando a criança consegue desempenhar
atividades com pouco ou nenhum apoio externo. A auto-regulação ocorre através do
processo de internalização, o qual consiste em transformar a assistência externa em recurso
interno. Lantolf e Thorne enfatizam que ser proficiente em uma língua, materna ou
segunda, é ser auto-regulado.
De acordo com Vygotsky, desenvolvemos a capacidade para usar ferramentas simbólicas
não para controlar o ambiente físico mas para mediar nossa própria atividade psicológica.
Para ele, as ferramentas físicas são direcionadas para o mundo externo, enquanto as
ferramentas simbólicas são direcionadas para o nosso mundo mental. As ferramentas
simbólicas controlam e reorganizam os nossos processos mentais. A linguagem é o mais
poderoso artefato simbólico-cultural que possuímos e é ela que faz a mediação entre nós e o
mundo, nós e o outro, nós e nós mesmos. Nesse sentido, a L2 também é uma ferramenta de
mediação da nossa atividade mental. O modo primário com que usamos a linguagem para
mediar a nossa atividade cognitiva é através da fala interna.
Artefatos culturais, tais como a linguagem, assumem uma função psicológica através do
processo de internalização. Este processo, assim como o processo de mediação, é central na
Teoria Sociocultural. A internalização consiste de um processo negociado que reorganiza a
relação entre o indivíduos e seu ambiente social, permitindo que essa relação seja levada
para o desempenho de estágios futuros. É o processo de internalização que nos permite ter
controle sobre nosso cérebro – o órgão biológico em que o pensamento opera.
Lantolf e Thorne (2007) assim como Gass e Selinker (2008) afirmam que, para Vygotsky, a
internalização se dá por meio da nossa capacidade de imitar a atividade intencional do
outro. O conceito de imitação, nessa Teoria, é complexo, e é uma atividade cognitiva
direcionada que envolve mecanismos motores e neurológicos e que pode, inclusive, 38
modificar o modelo original. Não é uma simples cópia do que a criança vê ou ouve no
ambiente em que está. O processo de imitação pode ocorrer imediatamente após um evento
ou pode algum tempo após – nesse caso, a imitação permite que a criança analise a
linguagem “off-line” permitindo que o par “imitação-fala espontânea” apareça. O processo
de imitação que acontece algum tempo depois do evento constitui a base da fala
espontânea.
Por fim, um outro conceito que é fundamental na Teoria Sociocultural é o de Zona de
Desenvolvimento Proximal (ZPD), com o qual você provavelmente deve estar
familiarizado. A Zona de Desenvolvimento Proximal foi definida por Vygotsky (1978, p. 6)
como “a distância entre o nível de desenvolvimento real, determinado pela capacidade de
resolver problemas de forma independente, e o nível de desenvolvimento potencial,
determinado pela capacidade de resolver problemas sob a orientação de adultos ou em
colaboração com parceiros mais capazes.
O conceito de ZPD atrai muitos educadores e professores por duas razões principais.
Primeiro, esse conceito guarda relações com o noção de assistência, a qual fomenta o
interesse pelo trabalho de Vygotsky. Segundo, o conceito de ZPD vai além da ideologia de
testes tradicionais, que pretensamente servem para medir somente o que o aprendiz sabe em
dado momento, para trazer o insight de que aquilo que o aprendiz sabe fazer agora sob
orientação e com assistência é uma indicação do que poderá fazer de maneira independente
no futuro. Isso nos dá uma perspectiva tanto do desenvolvimento alcançado como do
desenvolvimento a ser alcançado.
O conceito de ZPD também está relacionado à idéia de que a aprendizagem é uma atividade
interpessoal e são atividades desse tipo que constituem a base do funcionamento individual.
Essa idéia enfatiza a natureza social da aprendizagem e a importância da aprendizagem
colaborativa. A noção de ZPD está ilustrada na figura abaixo: 39
 Comparada às teorias de aquisição de L2 mais centrais, a Teoria Sociocultural é ainda
bastante recente e estudos que investigam seus postulados são, desse modo, escassos.
Entretanto, Lantolf e Thorne (2007) mencionam pesquisas que investigam o uso da fala
privada na aquisição de L2 (por exemplo, McCafferty, 1994). Estas pesquisas mostram que
o papel da fala interna em L2 é o de regular uma tarefa – ou seja, o de colocar ordem na
execução de uma tarefa.
Para terminar, podemos dizer que a Teoria Sociocultural nos traz a visão de que a cognição
humana resulta de um contexto complexo – com aspectos históricos, sociais, materiais e
culturais – em que nossas experiências acontecem. Estas experiências são fundamentais
para o desenvolvimento de nossa cognição. A linguagem é a ferramenta – o artefato
cultural – que faz a mediação entre nós seres humanos e o ambiente a nossa volta.
Entretanto, devemos observar também que a Teoria Sociocultural é proposta para explicar a
aquisição de língua materna por crianças em ambientes naturais. Os pesquisadores que se
afiliam a essa Teoria têm, portanto, um grande desafio a sua frente ao tentarem aplicar os
conceitos que vimos à aquisição de L2 por parte de adultos em contexto de sala de aula. 40
4.2 A Teoria do Insumo, Interação e Produção
A última teoria de aquisição de L2 que discutiremos em nosso curso é a Teoria do Insumo,
Interação e Produção, proposta em sua forma mais recente por  Susan Gass e  Alison
Mackey (2007). Esta teoria possui aspectos teóricos do Modelo Monitor (ou Hipótese do
Insumo, como também é chamado, lembram-se?) e da Hipótese da Produção, proposta por
Merril Swain (1985, 1995, 2005). Inicialmente apresentada na forma de hipótese, evoluiu
de forma rápida, de forma que há teóricos que a consideram a teoria dominante da área (por
exemplo, Ramírez, 2005) e livros totalmente dedicados à criticar a proposta (por exemplo,
Block, 2003).
A Teoria do Insumo, Interação e Produção procura explicar a aquisição de L2 por meio de
3 conceitos principais: o de exposição à L2, o de produção da L2 e o de feedback à essa
produção. A teoria está fortemente amparada na literatura sobre interação e nas noções de
que (1)a aprendizagem de L2 é estimulada pela pressão comunicativa e (2)há uma relação
importante entre a comunicação e a aquisição, em virtude dos mecanismos cognitivos que
são desencadeados a partir da pressão para a comunicação.
Na Teoria do Insumo, Interação e Produção, o insumo linguistico (input) é elemento
essencial e é definido como a língua à qual o aprendiz é exposto. O insumo pode ser
escrito, oral ou, no caso da aquisição de línguas de sinais, visual. Como postulado por
teóricos da Gramática Universal, o insumo contém evidencia positiva sobre a língua – ou
seja, informação sobre o que é possível ser realizado lingüisticamente naquele sistema. Esse
postulado é aceito na Teoria do Insumo, Interação e Produção. Com base na pesquisa sobre
interação, a qual mostra que a linguagem usada para nos comunicarmos com aprendizes de
L2 é diferente daquela que usamos para nos comunicarmos com falantes nativos, Gass e
Mackey (2007) argumentam que o insumo modificado, direcionado aos aprendizes, torna a
língua mais compreensível. Esse insumo, que pode tomar a forma de ajustes simplificados
ou elaborados (mais ricos semanticamente) alivia o processamento cognitivo do aprendiz e, 41
junto com a evidencia negativa obtida na forma de correções, é considerado crucial para a
aquisição ocorrer.
Nessa Teoria, o conceito de interação é definido como as conversas em que os aprendizes
participam. É no contexto de interação que os aprendizes obtêm informação sobre o grau de
adequação (fonológica, sintática, semântica, pragmática) do que produzem, muitas vezes
através de evidência negativa. Isso pode acontecer, por exemplo, através de feedback
interacional. Temos feedback interacional quando um enunciado problemático é produzido
e o interlocutor sinaliza explicita ou implicitamente para o aprendiz o sucesso ou a falha da
comunicação. O feedback interacional é um importante elemento dessa teoria. Igualmente,
a evidência negativa tem uma importante função.
A evidência negativa, disponibilizada durante interações, pode ser apresentada na forma de
correção ou pode ser negociada – ou seja, o aprendiz e seu interlocutor procuram resolver o
problema na comunicação, negociando significados. Em ambos os casos, a evidência
negativa é uma forma de alertar o aprendiz sobre um erro em sua produção.
Se o erro for percebido – notado – pelo aprendiz ele tem que decidir qual é exatamente o
problema e como vai resolvê-lo. O aprendiz, então, formula uma hipótese sobre a forma
correta e a confirma mediante feedback adicional. Esse processo – o de notar – é
considerado fundamental para a aquisição de L2: é somente notando/percebendo um item
linguístico que podemos incorporá-lo ao nosso repertório e avançar no processo de
aquisição. A hipótese da percepção (Noticing Hypothesis), proposta por Schmidt (1995),
postula que esta é condição necessária para a aquisição ocorrer. A figura a seguir ilustra o
papel da evidência negativa na Teoria do Insumo, Interação e Produção. 42
     EVIDÊNCIA NEGATIVA
 
 
                       Negociação      Outros tipos de correção
      Percepção do erro
     
Procura por insumo
   Insumo disponível     Insumo não disponível
Confirmação / não confirmação
Uma das maneiras que o aprendiz têm de confirmar suas hipóteses sobre como determinado
item linguistico funciona na L2 é através da produção (oral ou escrita) – isto é, o uso da
língua. Swain (1985, 1995) formulou a hipótese da produção em que postula que o ato de
falar (ou escrever) a L2 força o aprendiz a transitar do processo de compreensão – em que o
uso da língua é semântico – para o processo de sintaticalização. Quando estamos engajados
em compreender a língua operamos majoritariamente na dimensão semântica da L2 e
usamos estratégias variadas para lidar com questões de natureza gramatical. Entretanto,
quando falamos a L2, é mais difícil ignorar os aspectos gramaticais do que queremos dizer
e somos forçados a buscar os itens gramaticais irão formar nossas sentenças. Por fim, a
produção, além de colocar a gramática da língua em  evidencia, é também eficaz na
automatização do que está sendo adquirido. A automatização é alcançada através do uso –
ou seja, da prática consistente e regular das formas lingüísticas.  43
De acordo com essa Teoria, a interação faz com que  o aprendiz direcione seus recursos
atencionais para aspectos problemáticos de sua produção na L2 – motivando-o a buscar
soluções para o problema – ou para aspectos completamente novos (tais como vocabulário
e estruturas gramaticais). Em ambos os casos o resultado provável é o desenvolvimento da
L2.
Gass e Mackey afirmam que há dois tipos principais de feedback: o explícito e o implícito.
O feedback explícito se dá na forma de correções e de explicações metalingüísticas. Já o
feedback implícito têm diversas formas e todas envolvem estratégias de negociação entre o
aprendiz e seu interlocutor. O feedback implícito pode acontecer na forma de:
• Verificações de confirmação: expressões que têm o objetivo de confirmar se o que
foi dito foi compreendido de forma correta – por exemplo, quando o interlocutor
pergunta “foi  isso o que você quis dizer?”
• Solicitações de esclarecimento: expressões que têm por objetivo esclarecer o que foi
dito – por exemplo, quando o aprendiz pergunta “o que você disse?”
• Verificação de compreensão: expressões para verificar se o interlocutor entendeu o
que foi dito – por exemplo, “você entendeu?”
• “Recasts”: reconstruções corretas de um enunciado incorreto, preservando o
significado.
O feedback é uma ferramenta poderosa no processo de aquisição de L2 porque ele torna
saliente aspectos problemáticos da interlíngua do aprendiz que poderiam nunca ser notados
como problemáticos. O feedback gera oportunidades para que o aprendiz direcione sua
atenção para a língua e o resultado desse direcionamento será o desenvolvimento da L2.
O feedback geralmente ocorre em situações de negociação de significado, outro processo
considerado muito importante pela Teoria do Insumo, Interação e Produção. A negociação
de significado é um processo “em que, em um esforço para se comunicarem, o aprendiz e
seu interlocutor sinalizam sua compreensão, fazendo ajustes à forma lingüística, à estrutura 44
conversacional, ao conteúdo da mensagem, ou a estes três aspectos, até que um nível
aceitável de compreensão seja alcançado” (Long, 1996: 418).
Através da negociação de significados, durante uma interação (uma conversa), o insumo
pode ser ajustado para as necessidades particulares de cada aprendiz, fazendo com que a
língua a que o aprendiz está exposto esteja em harmonia com seu nível de desenvolvimento
na L2. A negociação facilita, portanto, a compreensão do insumo. Além disso, ela atrai a
atenção do aprendiz para as relações de forma e significado através dos processos de
repetição, segmentação e reorganização de palavras nas frases. Por fim, a negociação pode
levar o aprendiz a perceber a distância entre o que quer dizer e o que sabe dizer, motivandoo a buscar maneiras para expressar suas idéias na L2. Podemos dizer, então, que a
negociação de significados, através de feedback interacional, é uma força motriz da
aquisição da L2. 45
UNIDADE 5
Pontos de contato (e de conflito) entre as teorias
   
Copyright © Estate of Pablo Picasso/Artists Rights Society (ARS), New York
http://picasso.tamu.edu/picasso/WorksIndex?Year=1969
Nas Unidades anteriores discutimos as seguintes propostas teóricas sobre a aquisição de L2:
• O Modelo Monitor (Unidade 2)
• A Gramática Universal (Unidade 2)
• A Teoria Associativa CREED (Unidade 3)
• O Modelo Declarativo Procedimental (Unidade 3)
• A Teoria Sociocultural (Unidade 4)
• A Teoria do Insumo, Interação e Produção (Unidade 4)
Com exceção do Modelo Declarativo Procedimental, as demais propostas fazem parte do
conjunto de modelos/teorias que atualmente são consideradas as mais citadas e discutidas 46
na história do campo de conhecimento “aquisição de L2”, até o presente momento. Este
conjunto abarca algumas outras perspectivas teóricas que ainda não vimos, mas que você
vai ter contato ao realizar trabalhos para nossa disciplina. Estas perspectivas incluem: a
Abordagem Orientada por Conceitos, a Teoria de Aquisição de Habilidades, a Teoria de
Processamento do Insumo, a Teoria de Processabilidade e a Teoria de Indução Autônoma.
Em uma publicação recente, VanPatten e Williams (2007) afirmam que o corpo de
conhecimento já obtido sobre o fenômeno “aquisição  de L2” nos permite fazer 10
observações gerais:
1 – A exposição ao insumo linguistico é necessária para aquisição de L2 ocorrer: esta
observação se refere ao fato de que, para que o aprendiz adquira a L2, ele deve ser exposto
ao insumo em L2. Embora muitos pesquisadores concordem que exposição é um elemento
necessário, nem todos acham que é um elemento suficiente.
2 –  Em grande parte, o processo da aquisição da L2 se desenvolve de maneira
incidental: quando os aprendizes estão engajados em atividades com foco no significado e
na comunicação, a aprendizagem de itens lingüísticos (vocabulário, sintaxe, morfologia,
pronúncia) é incidental, um “sub-produto” do envolvimento do aprendiz com a língua para
fins comunicativos.
3 – O aprendiz sabe mais do que aquilo a que é exposto: o aprendiz tem conhecimento
de natureza implícita, inconsciente, sobre a L2 e esse conhecimento não é obtido através do
insumo ao que está exposto, pois é de natureza complexa e está além do insumo a que tem
acesso.
4 – A produção do aprendiz, na L2, geralmente segue estágios previsíveis na aquisição
de determinadas estruturas:  esta observação se relaciona às seqüências de
desenvolvimento de determinadas estruturas sintáticas. Um exemplo muito famoso é o da
negação em inglês. Geralmente, o aprendiz demonstra o seguinte percurso na aprendizagem
da estrutura de negação:
  1 -  No + grupo verbal/nominal:
 No want that. 47
  2 - Sujeito + no + grupo verbal/nominal:
He no want that.
  3- Don’t, can’t, not se alternam com no:
   He can’t/don’t/ no want that.
  4 – Verbos modais são produzidos na negação:
   He can’t do that.
  5 – Verbos auxiliares são produzidos na negação:
   He doesn’t want that.
5 – Há grande variação no nível de proficiência na L2 que é atingido pelos aprendizes:
esta observação se refere ao fato de que, apesar de serem expostos ao mesmo insumo
linguistico, na mesma quantidade e condições, os aprendizes demonstram grande variação
no grau de conhecimento e desempenho na L2.
6 –  Há grande variação no grau de conhecimento e desempenho do aprendiz com
relação aos vários subsistemas da L2: o mesmo aprendiz pode demonstrar conhecimento
e desempenho diferentes em diferentes aspectos da L2. Por exemplo, ele pode ler bem na
L2, mas sua produção (oral, de sinais ou escrita) pode ser menos proficiente que sua leitura,
por exemplo.
7 –  A freqüência de um determinado item linguistico no  insumo é limitada: vários
estudos mostram que a freqüência com que um item ocorre no insumo está relacionada com
a aquisição desse item. Assim, itens infreqüentes são adquiridos mais tarde. Entretanto, há
vários estudos mostrando também que mesmo quando um item é altamente freqüente, sua
aquisição será tardia.
8 –  A influência da língua materna do aprendiz é limitada: embora a L1 tenha um
impacto na aquisição da L2, esse impacto é limitado por pelo menos 3 fatores: o tipo de L1,
os subsistemas da língua (fonológico, sintático, lexical, semântico, etc.), as características
individuais do aprendiz. 48
9 –  A instrução tem impacto limitado no processo de aquisição: essa observação se
refere à crença que temos de que, uma vez ensinada  e praticada, a L2 será adquirida.
Entretanto, vários estudos mostram que a instrução, às vezes não leva à aquisição. O caso
da negação em língua inglesa, mencionado acima, é um exemplo. Na maioria das vezes, a
instrução terá um resultado limitado no sentido de evitar que o aprendiz passe por aquelas
fases e chegue de imediato à forma final. Em alguns casos, o aprendiz demonstra ter
conhecimento da estrutura alvo em atividades de escrita e leitura, mas quando é solicitado a
usar a negação em tarefas mais espontâneas de fala, vemos as seqüências de
desenvolvimento emergirem. Por outro lado, vários estudos também mostram que a
instrução é benéfica em acelerar o progresso do aprendiz através das seqüências de
desenvolvimento.
10 – A produção tem impacto limitado no processo de aquisição de L2: esta observação
se refere ao fato de que, ao contrário do que Krashen (1985) propôs, a produção não é
apenas resultado da aquisição. Ela, de fato, pode fazer a aquisição da L2 acontecer.
Entretanto, novamente, esse impacto é limitado por  vários fatores e, entre eles, está o
subsistema da língua (se fonológico, sintático, semântico, pragmático).
Estas 10 observações sugeridas por VanPatten e Williams (2007) nos mostram o quanto a
pesquisa sobre aquisição de L2 avançou: o suficiente para nos permitir organizar um
conjunto de fatos sobre esse processo. Estes fatos podem ser reorganizados em 5 aspectos
centrais:
  1 – A natureza do conhecimento sobre a L2
  2 – A natureza do desenvolvimento da interlíngua
  3 – O papel da L1
  4 – O ambiente lingüístico
  5 – O papel da instrução
Vamos agora, então, revisitar cada teoria apresentada à luz das 5 áreas mencionadas acima. 49
1 - A natureza do conhecimento sobre a L2
A Teoria da Gramática Universal (GU) é afiliada ao  campo da lingüística gerativa
chomskyana e, portanto, explica a aquisição da linguagem a partir de uma teoria lingüística.
A GU lança mão do argumento lógico de que se os aprendizes possuem conhecimento
abstrato do que é ambíguo e do que não é gramaticalmente possível na L2, esse
conhecimento não é oriundo do insumo a que estão expostos ou de sua L1, mas de um
conhecimento que já possuem em alguma forma inicial. Não é um conhecimento resultante
de suas experiências (na L1 ou L2). Em outras palavras, a natureza do conhecimento na L2
é inata. Além disso, para a GU, o aprendiz de L2 é guiado por esse conhecimento prévio,
inicial, que possuem. Os teóricos da GU também postulam que a linguagem se distingue de
outras formas de cognição – é uma faculdade distinta, separada, um “órgão” da mente. Por
fim, nessa perspectiva teórica, o conhecimento da L2 também é visto como simbólico e,
nesse sentido, formal, abstrato e implícito. Desse modo, o desenvolvimento da L2 se dá de
maneira incidental, por dedução a partir do conhecimento inato e abstrato que já possuímos.
Essas mesmas características são compartilhadas pelo Modelo Monitor.
O Modelo Declarativo/Procedimental (MDP) é específico sobre a visão que tem da
natureza de nosso conhecimento linguistico e sobre a arquitetura de nossa cognição e, nesse
sentido, está relativamente próximo da GU. O Modelo está formulado a partir de uma visão
chomskyana da linguagem já que propõe que uma das capacidades da linguagem (a
gramática mental) é implementada por regras gerativas computacionais. O conhecimento
dessas regras também é procedimental e implícito. Entretanto, a outra capacidade da
linguagem – o léxico mental – é constituído por conhecimento de natureza declarativa,
explicita, o que distancia o MDP da GU. Da mesma forma, para o MDP a L1 e a L2 são
subservidas por regiões cerebrais que também subjazem a outros processos cognitivos. No
MDP a linguagem é um produto do cérebro.
Para a Teoria Associativa-Cognitiva CREED a L2 é adquirida e usada pela mesma
arquitetura cognitiva que subjaz a aquisição e uso  de outros tipos de habilidades. A
aprendizagem da L2, nessa Teoria, é uma tarefa indutiva e implícita que acontece de forma 50
incidental e que resulta em representações inconscientes. Entretanto, a capacidade humana
para a linguagem resulta de uma capacidade para abstrair padrões de probabilidade no
insumo: a aprendizagem da L2 resulta de nossa percepção da probabilidade um item
ocorrer com outro em dado contexto. Essa capacidade é inata – uma predisposição geral de
nosso cérebro que é estimulada pela necessidade de nos comunicarmos e pela experiência.
É uma predisposição natural que temos de aprender de forma probabilística.
Na Teoria Sociocultural a linguagem não é vista nem como um fenômeno linguistico nem
como uma faculdade da mente. Para essa Teoria, a cognição humana, de forma geral, é uma
faculdade social, que emerge a partir das experiências do individuo em determinado
contexto social-cultural-histórico-material. A aquisição da linguagem se dá através de
processos em que a mente se apropria do conhecimento a partir de experiências de natureza
social no ambiente em que o indivíduo está: através de sua relações com outros, por meio
de ferramentas (e a linguagem é uma delas) que fazem a mediação entre o indivíduo e o
ambiente. O processo de apropriação acontece, dessa forma, através da participação em
eventos sociais e envolve a consciência do indivíduo.
Por fim, a Teoria do Insumo, Interação e Produção não faz nenhuma afirmação específica
com relação à natureza do conhecimento em L2.
2 – A natureza do desenvolvimento da interlíngua
Para a Gramática Universal a interlíngua do aprendiz é sistemática, como todas as línguas
naturais, e a variação que há na interlíngua não constitui um desafio intelectual para a
teoria, já que é explicada a partir do fato de que  a gramática da L2 sofre de um
indeterminação típica – o fato de que às vezes o aprendiz vai julgar uma certa estrutura
como gramatical e outras vezes como não gramatical  está relacionado a questões de
desempenho e não de representação mental da L2. A mesma interpretação é verdadeira para
o Modelo Monitor.
Para a Teoria Associativa-Cognitiva CREED a interlíngua é sistemática e variável, como
todos os sistemas complexos. Nessa Teoria, a interlíngua é também dinâmica e espelha a
interação do cérebro com o ambiente. 51
Para a Teoria do Insumo, Interação e Produção, a interlíngua é tomada como variável, mas
é sensível à fatores como o contexto e o tipo de tarefa que está sendo desempenhada.
Assim, teóricos dessa linha postulam que é possível influenciar o processo de
desenvolvimento da interlíngua através da manipulação desses fatores durante a interação
do aprendiz com seus interlocutores. Além disso, o desenvolvimento da interlíngua também
pode ser afetado por variáveis de diferenças individuais tais como a atenção (ou seja, a
capacidade atencional do indivíduo).
No escopo da Teoria Sociocultural a variação encontrada na interlíngua de aprendizes de
L2 é um importante sinal do engajamento do aprendiz com o contexto e traz informações
sobre a ZPD, os objetivos individuais do aprendiz e o tipo de mediação e ferramentas que
estão disponíveis para ele. Por fim, o Modelo Declarativo/Procedimental vê a variação da
interlíngua como resultante de diferenças individuais, tais como a idade e o sexo.
3 – O papel da L1
Para três teorias – a GU, o Modelo Monitor e a Teoria Associativa-Cognitiva CREED – a
L1 tem uma posição privilegiada no processo de aquisição de L2. Para a GU, a L1 é o
ponto de partida para a aquisição de L2, embora uma grande parte dos teóricos dessa linha
aceitem o fato de que a influência da L1 não vai ser igual para todos os subsistemas da L2.
Para a Teoria Associativa-Cognitiva CREED, os estágios iniciais da aquisição serão
fortemente influenciados pela L1, mas a experiência na L2 acaba por ajustar o grau de
influencia da L1.
Já para a Teoria Sociocultural, o papel da L1 no processo de aquisição de L2 é o de
mediação. A L1 é usada de forma voluntária e estratégica pelo aprendiz, com o objetivo de
atingir a auto-regulação. É também usada para colaboração em atividades em que usar a L2
é cognitivamente difícil por estar muito acima do nível de desenvolvimento do aprendiz.
Ao invés de ser visto como um obstáculo, o uso da L1 é tido, nessa teoria, como uma
contribuição à aprendizagem da L2.
As demais teorias não fazem nenhuma menção explícita ao papel da L1 no processo de
aquisição da L2. 52
4 – O ambiente linguistico
Como já vimos, o papel do ambiente lingüístico (o insumo propriamente dito), para a GU, é
limitado no processo de aquisição de línguas. O insumo linguistico vai desencadear o
conhecimento que já é inato. O mesmo é postulado pelo Modelo Monitor, que postula que o
insumo compreensível é condição suficiente para a aquisição ocorrer.
Em contrapartida, para a Teoria Associativa-Cognitiva CREED, o processo de aquisição é
totalmente dirigido pelo insumo, através dos “exemplos” – realizações lingüísticas
encontradas no ambiente. Quanto mais experiência com essas realizações o aprendiz tiver,
quanto mais exposto a elas o aprendiz for, melhor será o processo de aquisição. Como diz
Ortega (2009), de todos os elementos da aquisição,  o insumo lingüístico (o ambiente
linguistico) é o mais importante elemento, para essa teoria.
Nas demais teorias – o MDP, a Teoria Sociocultural  e a Teoria de Insumo, Interação e
Produção – o insumo é ingrediente importante mas tem posição intermediária, quando
comparado ao papel que tem nas duas teorias mencionadas acima. Para a Teoria de Insumo,
Interação e Produção, o insumo é um elemento necessário, mas não é suficiente, para a
aquisição ocorrer. Para a Teoria Sociocultural, o insumo é importante, mas seu papel é
geral, na medida em que é a participação social em situação de aprendizagem o elemento
crucial. Finalmente, para o MDP, o insumo linguístico é importante no sentido de garantir
que o aprendiz tenha experiências com a língua, pois a formação de memórias no cérebro é
afetada pela experiência.
5 – O papel da instrução
Nem todas as teorias de aquisição de L2 postulam um lugar de destaque para a instrução.
Por exemplo, para a Gramática Universal e o Modelo Monitor, pode ser benéfico ensinar
alguns aspectos da língua (vocabulário, escolhas pragmáticas, etc.), mas o núcleo da língua
(a sua morfo-sintaxe) é impermeável à instrução porque o processamento consciente dessa
dimensão da língua não é compatível com a formação de representação mental.  53
Já a Teoria Associativa-Cognitiva CREED dá à instrução um papel de facilitadora do
processo de aquisição de L2, ainda que seja um papel  complementar, subordinado a outros
elementos mais centrais tais como o insumo linguistico e a inferência que o aprendiz faz
por si mesmo da probabilidade estatística daquela L2. Considerando que o aprendiz é um
“estatístico” que “calcula” inconscientemente a probabilidade de ocorrência de exemplos e
construções lingüísticas, os teóricos dessa linha recomendam que o insumo em contextos
instrucionais seja, tanto quanto possível, abundante, rico e autêntico. A instrução, nessa
teoria, será particularmente benéfica para colocar em evidência aqueles aspectos da língua
que não são salientes. A repetição e a prática também são vistas como úteis nessa teoria. Da
mesma forma, o Modelo Declarativo/Procedimental também concede à instrução um papel
complementar, no sentido de que essa instrução, principalmente se implícita, leva à prática
e, portanto, à experiência.
Na Teoria Sociocultural a instrução também tem um papel facilitador, mas deve ser
planejada no sentido de criar um ambiente social e material em que os aprendizes sejam
motivados a participar em atividades com foco no significado e em que a assistência que
recebem do professor e de colegas seja apropriada para o nível de desenvolvimento em que
estão. Se estas duas condições estiverem presentes, a instrução opera na Zona de
Desenvolvimento Proximal e a expande, provocando, assim, mudanças qualitativas no tipo
de assistência que aprendiz necessita e nas participações que faz.
Por fim, a perspectiva que concede à instrução um papel privilegiado é a Teoria do Insumo,
Interação e Produção. Os teóricos afeiçoados a essa visão sugerem a instrução baseada em
tarefas como modelo ideal por essas criarem oportunidades para o aprendiz usar a L2 no
nível do discurso, em contextos em que o significado é o foco, ao mesmo tempo em que
possibilitam que a atenção do aprendiz possa ser direcionada para aspectos formais da
língua. A instrução, para essa Teoria, não vai alterar a rota do desenvolvimento, mas vai
otimizar o processo.  54
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